segunda-feira, 3 de outubro de 2011

PCC reforça atuação em AL
Organização adota métodos de gerenciamento de empreendimentos legais; governo replaneja ações de combate
| BLEINE OLIVEIRA - Repórter
O crime em Alagoas apresenta uma nova faceta, que está obrigando o governo a replanejar as ações de combate à violência. A estrutura de segurança pública do Estado já detectou a ação de criminosos que estão aplicando aqui a prática dos grandes centros urbanos do País e repassando seus “ensinamentos” a traficantes de Maceió. O governo já tem informações e elementos suficientes para concluir que a organização criminosa PCC instalou-se na capital alagoana da mesma forma sistemática que atua em vários Estados.
Diversas autoridades admitem que a presença da organização criminosa PCC não é mais fantasia de marginais de segunda classe, mas uma realidade que preocupa os poderes públicos. Do Executivo ao Judiciário, passando por instituições como o Ministério Público e a seccional alagoana da Ordem dos Advogados do Brasil, há uma mobilização para barrar o avanço dessa estrutura do crime.
As autoridades alagoanas já identificaram tentáculos da organização no Estado, que tem aqui um braço jurídico, ou seja, advogados locais e vindos de outros Estados, que servem aos integrantes do primeiro comando.

Facção controla sistema prisional

Aqui, a organização criminosa PCC tem dezenas de criminosos sobre seu controle, nos presídios e nas ruas. No sistema prisional eles têm a mesma força dos bandos que atuam nas ruas. A administração do sistema vem trabalhando para impedir que a organização assuma o comando total das unidades penitenciárias alagoanas. Mas é fato que a organização atua cada vez mais intensamente em nossas penitenciárias, chegando a definir quem vive e quem morre dentro e fora delas.
O promotor de Justiça Luiz Vasconcelos, coordenador do Grupo de Combate às Organizações Criminosas (Gecoc), unidade do Ministério Público Estadual, confirma a presença dessa articulação do crime em Alagoas, e propõe o engajamento de toda sociedade no combate a ela. “Preliminarmente é fundamental aceitarmos que esse avanço da criminalidade organizada é uma realidade e que seu enfrentamento só obterá êxito com o envolvimento de todos” – disse ele, ao ser indagado sobre o que fazer diante da situação.

“Bolsa família” sustenta o crime

O Ministério Público tem um “raio x”da organização criminosa PCC e seus tentáculos em Alagoas e divide com as autoridades da área de segurança pública e do Judiciário todas as informações relacionadas à sua atuação. Entretanto, é possível perceber um manto de insegurança pairando sobre aqueles que sabem dessa realidade. Poucos aceitam falar claramente sobre o que está acontecendo.
Um juiz da 17ª Vara, que exigiu absoluto sigilo sobre sua identidade, disse que é preciso evitar o pânico e a “glamourização” do crime. Ele lembrou que o PCC surgiu escondido sobre a bandeira de defesa dos direitos dos presos, mas é de fato uma indústria que promove o crime como fonte de lucro.
O magistrado tem razão ao propor a desqualificação do PCC como uma organização capaz de bater de frente com as forças públicas, mas é inegável que o volume de dinheiro que a organização movimenta lhe dá fôlego para continuar existindo. A organização trouxe para Alagoas o mesmo modus operandi que construiu em São Paulo.

MP e 17ª Vara reforçam ações

O tráfico de drogas, roubo de carros e assaltos a bancos são as modalidades criminosas de atuação mais frequente do PCC em Alagoas. O bando se estruturou para obter lucro nessas três frentes, mas por aqui é o tráfico o segmento considerado mais rentável. As autoridades estimam que mais de 80% das bocas da Capital estejam sob as ordens do primeiro comando.
Por isso o combate à organização vem sendo intensificado, num esforço conjunto da 17ª Vara Criminal da Capital, do Grupo de Combate às Organizações Criminosas (Gecoc), do Ministério Público, e da estrutura policial. “A 17ª VCC é um modelo que outros Estados precisam adotar e seguir urgentemente” – defendeu o promotor Luiz Vasconcelos.
Responsável pela coordenação do trabalho desenvolvido pelo Gecoc, o promotor de Justiça, afirma que o grupo criado pelo MP representa um crucial instrumento da luta que Alagoas está sendo obrigado a travar diariamente para combater a criminalidade.
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Grupo era comandado por Charlão que controlava o tráfico de drogas no Bom Parto. Foto: Divulgação